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Tradução: dia de congelar. Significa o dia em que o cliente concorda em não fazer mais modificações no projeto, de modo que o desenvolvedor possa trabalhar sem sustos.

Há uma tendência muito louvável atualmente que se chama “desenvolvimento ágil”, que aceita e até mesmo estimula mudanças de rumo em qualquer ponto do desenvolvimento. A equipe é que tem de ser flexível o suficiente para se adaptar em tempo hábil.

Mas tem projetos que dão vontade de ver um dia em que a coisa não muda mais. Seguem abaixo duas telas de um CD ROM que eu estava produzindo para uma mestranda da Faculdade de Odontologia da USP-Bauru. Tudo ia indo bem, as telas seguindo as recomendações da orientadora, nas cores e na diagramação:

(clique nas figuras para vê-las no tamanho natural)
Tela planejada e equilibrada

 

outra tela planejada e equilibrada

 

A questão é que mesmo depois de planejada toda a diagramação do projeto, foram sendo inseridos novos conteúdos. Fui criando novas telas, novas seções, mas vários assuntos deveriam estar necessariamente numa mesma tela por força do conteúdo e das exigências da orientadora.

O resultado acabou sendo telas carregadas, como estas:

uma tela sobrecarregada

 

outra tela sobrecarregada

 

Ok, não ficaram tão ruins. Mas ficaram um tanto poluídas. A uma certa altura do páreo não havia sequer prazo suficiente para consertar as coisas. Ficou a lição: quando o cliente disser que está tudo decidido, não acredite. Sempre trabalhe com uma folga: de prazo, de recursos. Até de espaço nas telas.

(a mestranda, Ariádnes Oliveira, gentilmente permitiu que eu citasse seu trabalho neste post. Aliás, havia uma porção de coisas legais como vídeos mostrando as várias fases do desenvolvimento da fala dos bebês. Era um CD ROM. Assim que eu conseguir fazer uma versão on line coloco aqui.)

Isto aconteceu há mais ou menos  uns oito anos atrás, meu primeiro ano como estagiário na faculdade. Construí uma calculadora de conversão Celsius-Kelvin-Fahrenheit. Já joguei fora, mas era mais ou menos como a deste link.

Estava todo orgulhoso do meu feito mas o coordenador não teve dó. Pirragueou e lascou:

_E pra que serve isso, pode-se saber? Com uma calculadora, papel e lápis posso fazer o cálculo com segundos de diferença e com a vantagem de treinar o cálculo.

_Hmm… talvez pra conferir o resultado.

_Ah, sim. Pra conferir se a calculadora não está enganada. Faça-me o favor.

Voltei para o computador com o rabo no meio das pernas. Ele tinha razão. Veio à luz então meu conversor 2.0. Esse eu guardei, tá no meio de outras quinquilharias, neste link. Agora sim! Gráficos! Interatividade! Até apareciam umas janelinhas quando digitávamos certas temperaturas como a de fusão do gelo. E o coordenador:

_Continuo não vendo utilidade didática pra isso.

_Bom, sei lá, o aluno vê nas barrinhas uma tradução visual dos números.  100 Kelvin por exemplo, vê-se que é -173 Celsius e…

_E…? O que o faz pensar que o aluno não consegue imaginar uma barra de zero a 100 kelvin e outra de zero a -173 celsius?  O aluno pode até desenhá-las, se quiser: basta desenhar a barra do celsius  mais ou menos três quartos maior.

Ele tinha razão de novo. Nem falei das janelinhas. Guardei o programinha na pasta das quinquilharias e guardei a lição: não criar um recurso digital apenas para mostrar minhas habilidades de desenvolvedor (como na primeira versão) ou apenas para causar impacto visual (como na segunda versão).

E não adianta invocar o santo nome da motivação do aluno em vão. Mais cedo ou mais tarde um professor, ou um aluno, vai desmascarar seu “recurso interativo digital”.

Se é pra gastar horas – às vezes dias – na criação de um recurso digital, parta de um problema real.