Isto aconteceu há mais ou menos  uns oito anos atrás, meu primeiro ano como estagiário na faculdade. Construí uma calculadora de conversão Celsius-Kelvin-Fahrenheit. Já joguei fora, mas era mais ou menos como a deste link.

Estava todo orgulhoso do meu feito mas o coordenador não teve dó. Pirragueou e lascou:

_E pra que serve isso, pode-se saber? Com uma calculadora, papel e lápis posso fazer o cálculo com segundos de diferença e com a vantagem de treinar o cálculo.

_Hmm… talvez pra conferir o resultado.

_Ah, sim. Pra conferir se a calculadora não está enganada. Faça-me o favor.

Voltei para o computador com o rabo no meio das pernas. Ele tinha razão. Veio à luz então meu conversor 2.0. Esse eu guardei, tá no meio de outras quinquilharias, neste link. Agora sim! Gráficos! Interatividade! Até apareciam umas janelinhas quando digitávamos certas temperaturas como a de fusão do gelo. E o coordenador:

_Continuo não vendo utilidade didática pra isso.

_Bom, sei lá, o aluno vê nas barrinhas uma tradução visual dos números.  100 Kelvin por exemplo, vê-se que é -173 Celsius e…

_E…? O que o faz pensar que o aluno não consegue imaginar uma barra de zero a 100 kelvin e outra de zero a -173 celsius?  O aluno pode até desenhá-las, se quiser: basta desenhar a barra do celsius  mais ou menos três quartos maior.

Ele tinha razão de novo. Nem falei das janelinhas. Guardei o programinha na pasta das quinquilharias e guardei a lição: não criar um recurso digital apenas para mostrar minhas habilidades de desenvolvedor (como na primeira versão) ou apenas para causar impacto visual (como na segunda versão).

E não adianta invocar o santo nome da motivação do aluno em vão. Mais cedo ou mais tarde um professor, ou um aluno, vai desmascarar seu “recurso interativo digital”.

Se é pra gastar horas – às vezes dias – na criação de um recurso digital, parta de um problema real.